sexta-feira, 19 de setembro de 2008

ANÁLISE LINGÜÍSTICA NO ENSINO FUNDAMENTAL: UM NOVO OLHAR

Eliziane de Paula Silveira Barbosa (Semec/UFT) Colinas do Tocantins, elizianedepaula@hotmail.com; Elisângela Teixeira Silva (EM PEDRO Ludovico Teixeira/UFT), Colinas do Tocantins, elis.angela.teixeira@hotmail.com

1-Introdução



Apresentaremos aqui uma proposta de trabalho bem-sucedido realizado na 5ª série (6º ano) do EFII-Ensino fundamental II, 35 alunos na sala de aula, no período matutino, na E M José Teodoro, localizada no Bairro São João na Cidade de Colinas do Tocantins. Este trabalho só foi possível através do caminho de reflexões, análises de textos e das (re) leituras da nossa prática que traçamos durante as aulas da disciplina “Reflexões em torno do ensino da gramática” ministrada durante o curso de Especialização em Leitura e Produção Escrita, oferecida mediante um convênio entre Secretaria Municipal de Educação e Cultura e Universidade Federal do Tocantins-UFT.

O ensino de gramática constitui um dos fortes pilares das aulas de Língua Portuguesa, nas últimas décadas, entretanto, vem se firmando um movimento de revisão dessa prática, denominada Análise Lingüística. Muitos professores de Língua Portuguesa ainda têm muitas indagações no que concerne ao ensino da gramática em sala de aula, estes muitas vezes encontram-se em conflitos, pois ora se diz deve ensinar gramática, ora se mensura: “jogue a gramática no lixo”.

Com o intuito de estabelecer uma maior clareza sobre a prática da análise lingüística, o nosso trabalho permea em dois momentos. Primeiro faremos uma abordagem teórica sobre gramática e análise lingüística à luz da fundamentação do Parâmetro Curricular de Lingua Portuguesa-PNCLP e autores que se dedicam a linha de pesquisa da temática e no segundo, expomos a nossa exitosa experiência de atividade em sala de aula, utilizando exercícios do Livro Didático Português: Linguagem (2005) escolhido e adotado pelas professoras do EFII da Rede Municipal de Educação, através do Programa Nacional do Livro Didático-PNLD.



2. Objetivo



Discurtir as teorias subjacentes em torno do ensino da gramática, da análise lingüística e apresentar uma proposta de intervenção de aula de Língua Portuguesa.



3. Material e Métodos



Nossa metodologia caracteriza se em estudo etnográfico e na intervenção pedagógica, a qual perpassou na observação de aula, elaboração do plano de aula, na perspectiva de aplicação de 04 (quatro) aulas práticas na escola mencionada. Coletamos dados como as atividades dos alunos, recortes do exercício do livro didático, anotações e transcrições das falas dos alunos, das professoras pesquisadoras e fotocópias das atividades feitas no caderno dos alunos.


4. Discussão



Foi cunhado por Geraldi (1984) o termo, pela primeira vez, “análise lingüística” surgiu para denominar uma nova perspectiva de reflexão sobre o sistema lingüístico e sobre os usos da língua, com vistas ao tratamento escolar de fenômenos gramaticais textuais e discursivos que propõe o ensino de gramática a partir de produções escritas dos alunos. O autor destaca que, a partir dos textos dos alunos, além dos aspectos ortográficos e sintáticos, o professor deveria considerar também os efeitos de sentido e possibilitar que os alunos compartilhassem suas produções escritas com toda a turma, não tendo apenas o professor como interlocutor.

Na apresentação deste trabalho, há a seguinte colocação: há ou não necessidade de ensinar gramática. “Mas essa é uma falsa questão: a questão verdadeira é o que, para que e como ensiná-la” (PCNs, 1998: 28) Isso não significa que não é para ensinar fonética, morfologia ou sintaxe, mas que elas devem ser oferecidas à medida que se tornarem necessárias para a reflexão sobre a língua. Como relata o PCN (1998:90)



(...) nas séries iniciais, o que é "proparoxítona", no fim de um processo em que os alunos, sob orientação do professor, analisam e estabelecem regularidades na acentuação de palavras e chegam à regra de que são sempre acentuadas as palavras em que a sílaba tônica é a antepenúltima. Também é possível ensinar concordância sem necessariamente falar em sujeito ou em verbo.



O Parâmetro Curricular Nacional-PCN (Brasil, 1998), sugere como metodologia para o trabalho com os objetos de ensino de Língua Portuguesa, a partir de atividades que envolvam o uso da língua, como produção e compreensão de textos orais e escritos em diferentes gêneros discursivos/ textuais. Seguidas de atividades de reflexão sobre a língua e a linguagem a fim de aprimorar as possibilidades de uso. O tratamento didático proposto pode ser assim sistematizado: USO - REFLEXÃO - USO.

O eixo da reflexão envolve as práticas de análise lingüística. De acordo com os PCNs (1998: 78), esta “não é uma nova denominação para o ensino de gramática”, pois, uma vez que toma o texto como unidade de ensino, além dos aspectos ortográficos e sintáticos a serem considerados, abarca também os aspectos semânticos e pragmáticos que enquadram o texto em determinado gênero discursivo/ textual. Dessa forma, os referenciais assumem uma perspectiva contrária à tradição gramatical, que analisa unidades menores como fonemas, classes de palavras, frases, raramente chega ao texto e reproduz a “clássica metodologia de definição, classificação e exercitação” (PCNs, 1998: 29).

Mediante dos referenciais nacionais, indicamos que o professor trabalhe as atividades epilingüísticas para, por fim, chegar às atividades metalingüísticas, a sugestão é que as atividades que envolvam metalinguagem sejam abordadas no quarto ciclo (8º e 9º anos). Porém sem interesse normativo-prescritivo, com o privilégio de alguns conteúdos pertinentes às especificidades dos gêneros discursivos/ textuais a serem estudados e não de todos os conteúdos tradicionalmente dados por gramáticas normativas. De acordo com o documento Parâmetros Curricular de Língua Portuguesa (1998:28);



A atividade mais importante, pois, é a de criar situações em que os alunos possam operar sobre a própria linguagem (...). É a partir do que os alunos conseguem intuir nesse trabalho epilingüístico, tanto sobre os textos que produzem quanto sobre os textos que lêem, que poderão falar e discutir sobre a linguagem, registrando e organizando essas intuições: uma atividade metalingüística, que envolve a descrição dos aspectos observados por meio da categorização e tratamento sistemático dos diferentes conhecimentos construídos.



Isso torna possível organizar um trabalho didático de análise lingüística. Devemos nos atentar que o termo que aparece com maior freqüência no PCN de 1º a 5º ano do EFI, é denominado em "Análise e reflexão sobre a língua", cujo objetivo principal é melhorar a capacidade de compreensão e expressão dos alunos, em situações de comunicação tanto escrita como oral.

Portanto, mais uma vez, sugerimos que nas turmas priorizem as atividades epilingüísticas e depois de sua exploração partir para atividade de metalingüística, fazendo isso, haverá maior equilíbrio: sem significar abandono das primeiras ou uso exaustivo das segundas, os diversos aspectos do conhecimento lingüístico podem, principalmente no quarto ciclo, merecer tratamento mais aprofundado na direção da construção de novas formas de organizá-lo e representá-lo que impliquem a construção de categorias, intuitivas ou não. (PCNs, 1998: 49).

Mediante a toda discussão, a professora L. da especialização sugeriu que elaborássemos uma situação didática que explorasse atividade de análise lingüística. Então optamos por planejar juntas as aulas, mas somente uma ministrou o conteúdo, a professora pesquisadora E. C. Foi selecionada uma unidade do Livro Didático Português: Linguagem (2006) que inicia com o gênero textual: Tira. A partir do texto elaboramos uma nova atividade com o objetivo de explorar o uso e a função dos artigos definidos e indefinidos no enunciado.

A seguir, os alunos em duplas e a professora fizeram à leitura oral, analisou as características do gênero textual, explorou bastante o sentido do texto, "deu vida a ele", pois o dramatizaram.

Sem mencionar conceito e nomenclatura de palavras a professora E. C. começou a perguntar o porquê, qual era a função do (o) e do (um) nos balões. E eles respondiam fazendo suas hipóteses, umas corretas outros não. Em seguida, a professora classificou os em artigos definidos e indefinidos. Muitos disseram: “ah! Eu já estudei isso o ano passado”.

Posteriormente, foi solicitado que eles conceituassem a definição dos artigos, através de indagações: por que eles achavam que tinha o nome de artigo definido e indefinido mediante o sentido do texto? À medida que eles iam dizendo a professora transcrevia no quadro as respostas. Depois, de vários conceitos de acordo com o entendimento deles, a professora apresentou a definição da gramática normativa, como estava expresso no Livro didático.

Diante da avaliação da aprendizagem da aula, notamos que os alunos compreenderam e logo poderão fazer o uso do artigo em sua produções, entendendo e sabendo empregá-lo corretamente. As próximas aulas continuarão com a produção de texto do gênero textual: Tira, dando ênfase ao emprego dos artigos, exercícios de revisão e refacção dos textos por eles elaborados. Em suma, concebemos que este tipo de trabalho se configura em análise lingüística,



4. Resultados



A pesquisa ainda está em andamento e os dados coletados, as observações nos apontam que este é o percurso. Se quisermos formar alunos com competência discursiva, ou seja, alunos leitores e escritores inseridos numa sociedade letrada, devemos utilizar a prática de análise lingüística.

Enfim, continuaremos as pesquisas para gerar mudanças na prática pedagógica que prevemos que é gradual e repleta de dúvidas, com passos às vezes até lento, mas este nos parece que é o caminho mais seguro de percorrer.



6. Considerações finais



Portanto, ainda que seja expectativa dos PCNs, é uma realidade pouco comum, sobretudo na escola pública, um professor que elabore seu próprio material didático, conceba e trabalhe o ensino de língua materna dentro de uma perspectiva enunciativo/ discursiva e perceba os limites, necessidades e possibilidades de aprendizagem de seus alunos. O mais comum, novamente de acordo com Rojo (2000), é um profissional que estruture seu trabalho a partir do livro didático sem fazer nenhuma modificação. Nesse sentido, mediante da pesquisa apresentada, conclamamos aos professores que possamos refletir, (re)ler e (re)ver a nossa formação inicial, continuada e procurarmos a buscar novos conhecimentos, por meio de aprimoramento de eventos que proporcionam um novo olhar aos nossos procedimentos teóricos- metodológicos, aqui em especial ao ensino de Língua Portuguesa na perspectiva dos eixos de leitura, escrita e análise lingüística..



7. Referência bibliográfica



CEREJA, R. Português: linguagem, 5ª série:Língua Portuguesa. São Paulo: Atual, 2002.

GERALDI, J. W. (1984). “Unidades básicas do ensino de Português”. In GERALDI, J. W. (org.) O texto na sala de aula. Cascavel (PR)/ Campinas (SP): ASSOESTE/ UNICAMP.

____________ (1996). “Ensino de gramática x reflexão sobre a língua”. In: Linguagem e ensino: exercícios de militância e divulgação. Campinas: Mercado de Letras/ Associação de Leitura do Brasil.

MENDONÇA, M. (2006). “Análise lingüística no ensino médio: um novo olhar, um outro objeto”. In: BUNZEN, C. & MENDONÇA, M. (Orgs.) Português no ensino médio e formação do professor. São Paulo: Parábola Editorial.

ROJO (2001) “Modelização didática e planejamento: duas práticas esquecidas do professor?”. In: KLEIMAN, A (org) A Formação do Professor: Perspectivas da Lingüística Aplicada. Campinas/SP: Mercado das Letras.

____________ & DOLZ, J. (1997). “Os gêneros escolares – das práticas de linguagem aos objetos de ensino”. In: B. SCHNEUWLY, J. DOLZ e colaboradores. Gêneros orais e escritos na escola. Trad. e org. R. Rojo & G. Cordeiro. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004.

SEF/MEC (1998). Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental: Língua Portuguesa. Brasília: SEF/MEC.

________ (2004). Guia de livros didáticos 2005 – 5ª a 8ª séries: v. 2: Língua Portuguesa. Brasília: SEF/MEC.

SOARES, M. (2001). “O livro didático como fonte para a história da leitura e da formação do professor-leitor”. In: Marildes Marinho (org.). Ler e navegar: espaços e percursos de leitura. Campinas: ALB: Mercado de Letras.

3 comentários:

profª Maria do Carmo disse...

 Elizane o que se percebe, hoje, é de fato muitos conflitos em relação se deve ou não ensinar gramática. O que muitos não compreendem é que como diz Possenti “a análise lingüística não elimina a gramática das salas de aula, como muitos pensam, mesmo porque é impossível usar a língua ou refletir sobre ela sem gramática. Não há língua sem gramática”. Compreendo que, o que devemos fazer é assumir, assim uma determinada concepção de língua que implica repensar o que é importante ensinar nas aulas de português e também como realizar esse ensino, para que nosso aluno atinja seus objetivos junto aos leitores a que se destina.
Achei interessante teu blog e adcionei no meu.
pROFª Mª do Carmo-Belém-Pa.

profª Maria do Carmo disse...

 Elizane o que se percebe, hoje, é de fato muitos conflitos em relação se deve ou não ensinar gramática. O que muitos não compreendem é que como diz Possenti “a análise lingüística não elimina a gramática das salas de aula, como muitos pensam, mesmo porque é impossível usar a língua ou refletir sobre ela sem gramática. Não há língua sem gramática”. Compreendo que, o que devemos fazer é assumir, assim uma determinada concepção de língua que implica repensar o que é importante ensinar nas aulas de português e também como realizar esse ensino, para que nosso aluno atinja seus objetivos junto aos leitores a que se destina.
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eddyer disse...

hoje irei fazer uma prova para ingressar no colégio nossa senhora da graça e este assunto me majudou muito obrigado.